
Todas as vezes que venho ao Brasil, me vem aquele poema de Gonçalves Dias – “As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá” – e a infame frase de Antonio Carlos Jobim: “Viver no exterior é bom, mas é uma merda. Viver no Brasil é uma merda, mas é bom”. Em outras palavras, cada vez que venho me torno mais ufanista.
Também pudera, venho uma vez por ano para aproveitar a companhia de minha família e, muitas vezes, provar um pouco do melhor que o Brasil pode oferecer. Gostaria de dizer que dessa vez não foi diferente, mas estaria mentindo. Dessa vez foi muito diferente, muito mais intenso. Muito melhor.
Cheguei as vésperas de um compromisso familiar e já na primeira semana me preenchi com tanto amor recebido dos meus. Até aqui, tudo normal.
O diferente começa na semana 2: faço a loucura de ir celebrar (ou, pra um termo mais apropriado, curtir) meu primeiro carnaval da vida no, nada mais nada menos, Rio de Janeiro. Erre Jota, para os íntimos – não confundir com Disney!
Honestamente, eu não sabia exatamente o que esperar. Muito se ouve falar do Riíio, especialmente no Carnaval: insegurança, arrastão (not good), aglomeração (it depends), intensidade (nice), calor (it’s getting better), gente bonita (i’m sold), mas decidi ir e tirar minhas próprias conclusões. Fui com um celular fuleira e um sonho: vivenciar o RJ em sua plenitude nessa época única. E também tentar aproveitar um pouco da vibe praiana/ftv nos intervalos.
A parte boa é que nem adiantava se preparar pra chegar “vacinado”. A parte ruim é que demorei mais de 30 anos pra experienciar isso pela primeira vez.
Graças a ajuda de alguém que logo se tornou uma pessoa muito próxima, descobri o carnaval real. E como descrever isso? Como relatar, pra mim mesmo, um sentimento que só conhece quem vive?
O carnaval carioca é um dilúvio de brasilidade, as 7:00 da manha. É a manifestação máxima do que define o brasileiro: intensidade, flerte, sorriso, jeitinho, música, samba, alegria. Não vou me alongar e apenas dizer que foi incrível.
O combo bloco pela manha + futevôlei pela tarde me fez me apaixonar pelo Rio de Janeiro.
O duro foi a ressaca. Não a de álcool, mas a ”de voltar pra realidade”. Que realidade? Ir pro Rio foi o primeiro passo do meu mini-sabático e voltei com mais sede do que cheguei, com aquele gostinho de quero mais. Mesmo vivendo o Carnaval por 6 dias, o tempo me pareceu curto. Me prometi que voltaria no ano seguinte e com um pensamento solidificado: isso não existe em nenhum outro lugar do mundo. O Brasil é diferente e o ufanismo já estava chegando na estratosfera.
Segui com o plano e voltei pra casa. No restinho de tempo no Brasil, aproveitei com família e amigos, nesse que também foi um período intenso (de uma outra forma) e feliz. Finalizei me escondendo no mato do sul de Minas Gerais, alternando entre trilhas recheadas de Araucárias, excelente comida mineira, banhos de cachoeira e cochilos na rede ao som de pássaros.
“É a calma antes da tempestade”, pensei. Nesse momento que escrevo, estou no avião rumo ao próximo destino. A sensação é que agora que começa o sabático. O Brasil foi mais uma ida a casa, tudo me pareceu muito familiar (com exceção do Rio) e dentro da zona de conforto. Quase que um bom demais. Essas primeiras três semanas serviram como prefácio do que, eu espero, seja a melhor aventura da minha vida.
Próximo capítulo: Colômbia.